Pages

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Cabarés: Diversão e resistência ao Estado Novo em Sergipe

Por: Débora Souza Cruz

Instituído por Getúlio Vargas em 1937, o Estado Novo caracterizou-se por ser um dos períodos mais autoritários da história do país. Com uma forte concentração de poder no Executivo Federal, censura através do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) e proibição de qualquer manifestação contrária ao seu governo, Vargas tentava controlar o cotidiano da população brasileira. O primeiro governante em Sergipe que representou tal período foi o médico Eronides de Carvalho.
Apesar de tanta vigilância, o Estado Novo em Sergipe encontrou algumas resistências. Quando falamos em resistência, logo imaginamos manifestações armadas ou com algum tipo de violência física, mas nem sempre é assim. Ela também pode ser entendida como qualquer ato contrário a algo, neste caso ao governo.
Com base em tal explicação, podemos afirmar que os Cabarés constituíam uma forma de resistência. Estes não só representavam locais que proporcionavam diversões (em uma época em que as distrações eram poucas e vigiadas), mas símbolos de entraves para a modernização e higienização que o governo tentava implantar.
Os Cabarés mais famosos de Aracaju situavam na Zona do Bonfim. Lá existia o Curral, uma área que agrupava prostíbulos conhecidos como “Pinga-Pus”, “Pinga-Tostão”, “Pinga-Sífilis”. O Beco dos Cocos e o Vaticano também constituíam pontos de referências da prostituição.
No seu livro Roteiro de Aracaju , Mário Cabral parece demonstrar certa oposição aos prostíbulos, quando afirma que em uma boa hora foi extinto pela Comissão de Recuperação Social, o famoso Curral, em 1953, sob a inspiração do Sr. Arnaldo Garcez, então governador do Estado.
Mesmo com o governo, médicos sanitaristas e a elite que defendia a modernização e higienização da capital, por que os Cabarés não acabaram? A resposta para tal pergunta é que o “comércio da prostituição” era alimentado não só por operários, mas, políticos, jornalistas e até profissionais da saúde. Ou seja, pelas próprias pessoas que oficialmente o repugnavam.
Enfim, podemos concluir que mesmo com tanta fiscalização no Estado Novo, o que não faltou para a população sergipana foi astúcia para tentar desviar as ordens estabelecidas e buscar distrações nas noites da cidade de Aracaju.

Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe 
Bolsista Voluntária PET (Programa de Educação Tutorial).
CABRAL, Mário. Roteiro de Aracaju. 3. e.d. Aracaju: Banese, 2002