Luis Eduardo Pina Lima
Professor do Departamento de História (DHI)
A pesquisa em questão foi apresentada em forma de Monografia de conclusão do Curso de Pós-Graduação “Latu Sensu” em Cultura e Arte Barroca, no Instituto de Artes e Cultura, da Universidade federal de Ouro Preto (UFOP), tendo sido orientada pela professora Drª. Adalgisa Arantes Campos (UFMG).
No referido estudo penetramos no complexo mundo da iconografia cristã ocidental, principalmente no que diz respeito às devocionais representações setecentistas da Virgem Maria, no estado de Sergipe, tendo como universo de pesquisa o Museu de Arte Sacra da Cidade de São Cristóvão.
Delimitamos o nosso objeto neste referido Museu, não só pela qualidade do acervo, como pela representatividade da imaginária que foi coletada por meio de doações feitas à Arquidiocese de Aracaju, por paróquias e famílias de todo o estado de Sergipe. Sem falar que os museus são instituições importantes, fornecendo-nos subsídios para qualquer trabalho significativo em termos de História da Arte.
Assim sendo, abordamos o nosso objeto dentro da perspectiva epistemológica de Erwin Panofsky e não obstante levemos em consideração algumas outras teorias relativas à especificidade do objeto em questão.
Nesse sentido, a iconografia pode ser definida como a forma de representação significativa de cada tema dentro da mesma, diferente da iconologia que nos remete a uma significação mais profunda da mesma, procurando entender aspectos intencionais e valores de época. A iconologia compreende uma verdadeira operação cultural da obra, uma arqueologia das intencionalidades, um mergulho no dito e no não dito, uma tentativa de descoberta do outro em nós.
É claro que não atingiremos nível tão profundo de compreensão da representação artística, mesmo porque antes de nele chegarmos, teremos que fazer primeiro a análise iconográfica, que é própria da proposta desta comunicação, desde que o tema foi enunciado.
Em seguida, para bem contextualizarmos historicamente o objeto estudado, elaboramos uma pequena síntese da imaginária sacra em Portugal e no Brasil, sempre nos baseando em autores de renomados trabalhos prestados à História da Arte.
Isto posto, veremos como a criação de novas ordens religiosas, como a dos Jesuítas (1534), fez com que o estilo Barroco de representação iconográfica se propagasse pela América Latina, no mais perfeito e amplo programa de conversão de almas jamais planejado na História. Deste projeto ideológico fazia parte as seguintes estratégias: igrejas monumentais, com muitos detalhes; contraste de luz e sombra, grande quantidade de pinturas; ênfase a culto dos santos e das relíquias e apelo à emoção.
Além dos Jesuítas chegaram no Brasil, no século XVI, também os Franciscanos, Capuchinhos e Beneditinos. Estes últimos foram os primeiros a desembarcarem nas terras de Sergipe Del Rei, mais especificamente na região de São Cristovão, uma das mais antigas cidades do Brasil, fundada em 1590, por Cristovão de Barros. Cidade que foi por três séculos o centro político, administrativo, econômico, espiritual e social de Sergipe.
É neste monumento a céu aberto, assim considerada desde 1938, que se encontra o nosso objeto de estudo: a imaginária sacra mariana setecentista do acervo do Museu de Arte Sacra de São Cristovão, um dos três museus mais importantes do gênero no Brasil.
Diante do exposto, gostaríamos de afirmar que o objetivo do presente estudo é fazer uma análise da imaginária mariana do século XVIII em Sergipe, numa tentativa de refletirmos sobre o universo da arte cristã, pois só este possui preceitos dogmáticos que geraram, e continuam a gerar, comportamentos, pensamentos e obras que são frutos de pessoas que, mesmo vivendo em um mundo materializado, teimam em sacralizar as suas vidas.