Texto: Natália Abreu Damasceno (*)
No último dia 28, o deputado federal do Rio de Janeiro Jair Bolsonaro fez declaraçõeshomofóbicas e racistas no programa de televisão da Rede Bandeirantes “CQC” que escandalizaram a opinião pública. A ocasião suscitou abaixo-assinados, protestos nas cidades e na internet e muitas matérias jornalísticas que expressaram um sentimento coletivo de repulsa. Taxado por alguns de nazista, por outros de “mais um político irresponsável”, suas polêmicas aparições fazem necessário pensar um pouco além das reações imediatas à sua intolerância declarada. Seria Bolsonaro mais um político irresponsável, um terrível nazista ou a cara de uma extrema-direita brasileira que nunca deixou de existir?
Observando a sua carreira política de 20 anos em cinco mandatos consecutivos de legislatura, as afirmações do parlamentar no “CQC” não trazem surpresas. Militar de formação e profissão, o político de 56 anos é partidário de ideais nacionalistas e conservadoras. Seus projetos e opiniões são frequentemente fundamentados na sua crença em Deus, na valorização da família e da ordem. Para além do conservadorismo, expressou explicitamente admiração ao Regime da Ditadura Militar no Brasile a outros princípios sintomáticos da extrema-direita em diversos momentos da sua carreira. Votou contra o desarmamento de civis, contra a distribuição de kits anti-homofobia nas escolas públicas pelo MEC, declarou que é a favor da tortura em casos de sequestro e tráfico de drogas.
Dessa forma, diante das afirmações inconstitucionais e infratoras do deputado é leviano classificá-lo como mais um político irresponsável e antiético ou mais um fruto do voto incônscio do povo. Na verdade, a articulação dos seus discursos vai além disso. Em vídeos postados no seu site oficial ou nas declarações feitas à imprensa,percebemos convicções que o enquadram na postura política fascista.
São flagrantes o militarismo, as críticas ferrenhas à esquerda, a discriminação das minorias e dos mais vulneráveis, sustentada através de falidas analogias entre homens e animais e os posicionamentos deterministas, por exemplo, em temas como adoção de filhos por casais homossexuais. Ainda, numa entrevista à revista IstoéGente, em 2000, insinua acreditar na “lei natural do mais forte”, no darwinismo social, tão difundido nos regimes de extrema-direita que marcaram o século XX, citando a Bíblia: “‘A árvore que não der frutos, deve ser cortada e lançada ao fogo’. Eu sou favorável à pena de morte". E continua mais adiante: “Nunca vi alguém executado na cadeira elétrica voltar a matar alguém. É um a menos”. Tal compreensão do extermíniocomo solução não é muito diferente do que orientou o Partido Nazista de Hitler a projetar a Solução Final que deu origem ao Holocausto.
Mas, não podemos cair no exagero fatalista de considerá-lo categoricamente um neonazista ou conceber a sua eleição como uma ameaça à democracia brasileira. Jair Bolsonaro é um representante conservador das Forças Armadas, sua luta por benefícios para a classe militar é visível. Além disso, exprime preconceitos que não são estranhos à sociedade brasileira, a qual está longe de ser fascista. Contudo, a sua intolerância não deve ficar impune e deve nos fazer refletir sobre nossos posicionamentos e sobre o ideal de sociedade que queremos alcançar. Assim, discutir a postura de Bolsonaro - essa encarnação de uma extrema-direita brasileira que pouco gostamos de falar - e lutar contra sua impunidade parlamentar é encarar um país de plurais pontos de vista e saber fazer prevalecer a ética, a democracia e a liberdade.
*Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe. Bolsista do Programa de Educação Tutorial do curso de História (PET História/UFS). Tutor: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard. Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente. E-mail: natalia@getempo.org.
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